segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A anta que virou elefante num domingo espetacular

Por José Ribamar Bessa Freire
21/11/2010 - Diário do Amazonas
 
Hakani: encenação sobre crianças indígenas enterradas vivas na Amazônia

A segunda-feira da índia Rosi Waikhon na periferia de Manaus foi um dia de cão. Escapou, por pouco, de ser apedrejada. Ao sair de casa, várias pessoas lhe atiraram na cara frases do tipo: “Ei, índia, você não é gente, índio mata o próprio filho, vocês deviam morrer”. Minha amiga há muito tempo, ela me confidenciou: "Meu dia virou um terror, em todos esses anos, nunca tinha ouvido palavras tão pesadas e racistas”.
Quem humilhou Rosi estava indignado, porque no dia anterior havia presenciado o “assassinato” de crianças indígenas, cometido pelos próprios pais, que praticam o “infanticídio”, tudo isso exibido no programa Domingo Espetacular da TV Record. Felizmente, como nos filmes americanos, chega a cavalaria para salvar vidas ameaçadas por índios bárbaros. A missionária evangélica Márcia Suzuki, cavalgando a emissora do Edir Macedo - tololoc, tololoc - leva os bebês arrancados das garras dos “criminosos” para a chácara da igreja neopentecostal. Enfim, salvos.
As pessoas viram trechos do vídeo “Hakani” com o sepultamento de uma criança viva. A voz cavernosa de um narrador em off anuncia que se trata de prática generalizada: “A cada ano, centenas de crianças são enterradas vivas na Amazônia”. O xerife Henrique Afonso, deputado federal do PV do Acre, quer prender os “bandidos”. Faz projeto de lei que criminaliza o “infanticídio indígena”, invoca a Declaração Universal dos Direitos Humanos e apela ao papa Bento XVI para que “intervenha contra o crime nefando”.
Como tem gente boa no mundo, meu Deus! Mas sobrou para Rosi que viveu uma “segunda-feira espetacular”. Quase foi linchada. Não foi a única. Rosi é índia Waikhon - etnia conhecida também como Piratapuia. Mora na Terra Indígena Alto Rio Negro, em São Gabriel da Cachoeira (AM), e está de passagem por Manaus. É educadora e líder da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro. Escritora, participou de dois Encontros de Escritores Indígenas na UERJ. Ela faz um apelo:
- "Gostaria de pedir aos senhores que não continuem usando o termo infanticídio indígena. Por favor, não aumentem o preconceito e o racismo contra nosso povo".

Xamãs e bruxos
Afinal, os índios cometem infanticídio? Essa é mesmo uma prática generalizada na Amazônia? Francisco Orellana, o primeiro europeu que cruzou o rio Amazonas dos Andes ao Atlântico, em 1540, viu coisas muito estranhas. A crônica da viagem - repleta de “domingos espetaculares”- conta que ele se deparou com elefantes em plena selva, comeu carne de peru, bebeu cerveja feita pelos índios e combateu as precursoras do infanticídio - mulheres guerreiras que matavam seus filhos homens. A Europa acreditou piamente em suas histórias.
Orellana, coitado, sentiu o mesmo problema do xerife Henrique e da cavaleira Suzuki: como descrever aquilo para o qual não tenho palavras? Orellana viu antas bebendo água no rio. Não existia esse animal na Europa, nem muito menos a palavra anta nos dicionários. Como dar conta dessa realidade desconhecida, nova e estranha? O bicho era grande? Era. Tinha tromba? Tinha. Então, ele sapecou: “vi elefantes”. Afinal, elefantes são grandes e tem tromba. O mesmo com as mulheres que combateu. Na Europa, mulheres não iam pra guerra. Então, Orellana recuperou o mito grego, que a Europa conhecia muito bem.
Esse processo de equivalência entre objetos conhecidos e objetos novos foi muito usado nos registros coloniais. Ele consiste em definir fatos representativos de uma cultura com símbolos de outra cultura. Mutum passa a ser peru, caxiri se transforma em cerveja, inambu vira perdiz e mulheres que trocam o fogão pelo arco-e-flecha são amazonas. Essa operação reduz e simplifica enormemente a diversidade e a riqueza cultural, porque o símbolo não consegue transmitir toda a sua carga de significado de uma cultura a outra.
Foi assim também com os pajés e xamãs, que não existiam na Europa e foram denominados de ‘feiticeiros’ pelos colonizadores, com conotações altamente negativas que o equivalente não tem. As consequências foram trágicas, porque se ninguém mata uma anta pra extrair marfim dela, feiticeiros e bruxos eram, no entanto, condenados à fogueira.
O infanticídio é crime punido por lei. Denominar de infanticídio uma prática cultural que desconhecemos e que nos choca não ajuda a entendê-la, oculta a anta e não revela o elefante, além de ser um convite para criminalizar os povos indígenas e condená-los à fogueira. Quando os antropólogos ou agentes de pastoral do CIMI chamaram a atenção para tal leviandade e para o erro em generalizar para todos os povos, a ONG Atini os acusou de defenderem o ‘infanticídio’ porque querem impedir a mudança cultural.

Os antropólogos
Todos os antropólogos - todos - sabem que a cultura é dinâmica, isso faz parte do bê-á-bá da antropologia. Nenhum antropólogo –nenhum- se manifesta contrário a mudanças, até porque isso seria inútil. Ao contrário, o que os antropólogos estão dizendo, para horror do agronegócio interessado nas terras indígenas, é que índio não deixa de ser índio porque usa computador e celular. Mas a emissora do Edir Macedo grita espetacularmente contra os antropólogos, sem citar nomes:
“Há quem diga que a prática de matar crianças deficientes, gêmeas ou filhas de mães solteiras deve ser defendida para manter a cultura”.
Não cita o nome de um só antropólogo, nem o livro ou artigo de onde foi pescada tal “informação”, porque ela é falsa. Na realidade, o que se pretende é quebrar a parceria com os principais aliados dos índios na luta pela saúde, educação e demarcação da terra. A Associação Brasileira de Antropologia (ABA), através da Comissão de Assuntos Indígenas, já havia publicado nota esclarecedora assinada por João Pacheco.
O vídeo Hakani – diz a nota – não é um registro documental proveniente de uma aldeia indígena, mas o resultado de uma absurda encenação realizada por uma entidade fundamentalista norte-americana. Utilizado como base para uma campanha contra o infanticídio supostamente praticado pelos indígenas, tem também a finalidade de angariar recursos para as iniciativas (certamente mais “filantrópicas” do que filantrópicas) daqueles missionários”.
Diz ainda que a prática daquilo que estão chamando inapropriadamente de infanticídio entre os indígenas “são virtualmente inexistentes no Brasil atual”. Ali onde eram localizadamente praticadas estão deixando de existir com a assistência médica e a demarcação de terras, por decisão dos próprios índios, conforme esclarece Rosi:
"Sou indígena, meu povo também tinha essa prática, mas não precisou de ONG nenhuma intervir para mudarmos. Os gêmeos, trigêmeos e os deficientes indígenas da região em que vivo estão sobrevivendo sem intervenção de Ong. Por favor, não peçam dinheiro em nome do infanticídio indígena".
A nota da ABA reforça: “Por que substituir a mãe, o pai, os avós, as autoridades locais por uma regulação externa e arbitrária? As crianças indígenas não são órfãs. Bem ao contrário, estão melhor protegidas e cuidadas no âmbito de suas coletividades e por suas famílias. Uma intervenção indiscriminada, baseada em dados superficiais e análises simplórias, equivocadas e preconceituosas, não poderá contribuir para políticas públicas adequadas a estas populações”.
O abandono e morte de crianças indígenas com sofrimento, dor e tensão foi a resposta dada por algumas comunidades a um infortúnio ou desgraça que as acometia e que está sendo discutido e solucionado pelos próprios índios diante da nova situação em que vivem. Doía tanto quanto para Abrahão matar seu filho.
Então, ficamos combinados assim: uma anta é uma anta, um elefante é um elefante, a resposta dada por algumas comunidades tem tromba e é grande, mas não é elefante, e o Edir Macedo é….bom todo mundo sabe o que é Edir Macedo.

O professor José Ribamar Bessa Freire coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ), pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO) e edita o site-blog Taqui Pra Ti .
 
Houve uma troca de cartas entre a índia Rosi Waikhon e a missionária Márcia Suzuki, da Ong Atini. Alguns trechos foram publicados juntamente ao artigo acima e podem ser lidos nesse link: http://www.taquiprati.com.br/cronica.php?ident=892
Segue também o tal vídeo polêmico: http://www.youtube.com/watch?v=pzjrO3x9ef0

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Postagens interrompidas por um tempo

Só pra avisar que meu pc está com problema então, no momento, não estou podendo postar. =(

quarta-feira, 23 de junho de 2010

O Rio Uaupés

Segue um texto - retirado de Socioambiental - sobre o Rio Uaupés, que abriga 17 etnias indígenas, sendo 3 delas localizadas apenas em terras colombianas. Dessas 17 etnias, a mais populosa é a dos Tukano - autodenominados Ye’pâ-masa ou Daséa - que são o foco de meu interesse.
Pretendo, posteriormente, trazer textos sobre cada uma dessas etnias e, por fim, deter-me nos Tukano.

O RIO UAUPÉS


O Rio Uaupés tem cerca de 1.375 Km de extensão. De sua foz do Rio Negro até a desembocadura do Rio Papuri, o Uaupés está situado em território brasileiro e percorre cerca de 342 Km. Entre este ponto e a foz do Querari, serve de fronteira entre o Brasil e a Colômbia por mais de 188 Km. A partir daí até as suas cabeceiras se situa em território colombiano e percorre 845 Km. Navegando no Uaupés, H. Rice (1910) contou 30 cachoeiras maiores e 60 menores.
Depois do Rio Branco, o Rio Uaupés é o maior tributário do Rio Negro. Atualmente, o nome Uaupés é o mais usado (no Brasil, já que na Colômbia fala-se mais Vaupés), mas também é conhecido como Caiari. Em seu curso, o Uaupés recebe as águas de outros grandes rios, como o Tiquié, o Papuri, o Querari e o Cuduiari.
Os principais núcleos de povoamento do Rio Uaupés são a cidade de Mitu, capital do departamento colombiano do Vaupés, e Iaraueté, que é sede de um distrito do município de São Gabriel. Iaraueté, além de ser um centro de ocupação tradicional dos Tariana, abriga também uma grande missão dos salesianos e um pelotão de fronteira do exército. Existem ainda outras duas missões salesianas na bacia do Uaupés, uma em Taracuá (na confluência desse rio com o Tiquié) e outra no Alto Tiquié, chamada Pari-Cachoeira. Também há um destacamento do Exército na confluência do Querari com o Uaupés e outro em Pari-Cachoeira.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

ALERTA: Deputado Aldo Rebelo é o carrasco da floresta!

O CARRASCO DA FLORESTA
José Ribamar Bessa Freire
13/06/2010 - Diário do Amazonas


 Foto: Curupira representado pelo ator Erick Krominski em ensaio fotográfico do Estúdio Wayne


"O deputado Aldo Rebelo me agrediu, bateu no meu corpo com um porrete, rasgou minha camisa, tentou me eliminar a mando da senadora Kátia Abreu! Há testemunhas. Estou registrando a queixa. Ele vai pagar caro por essa agressão, vai perder a eleição".

Quem fez essa denúncia grave, em entrevista exclusiva à coluna Taquiprati do Diário do Amazonas, foi o jurista Curupira Ramos, sentado sobre um jabuti que lhe servia de banco, em sua casa no meio do mato, com as pernas cruzadas, os pés virados para trás, o cabelo vermelho, os dentes verdes, as orelhas enormes e o corpo tão peludo quanto o do seu sobrinho Tony Ramos (a genética é impressionante, não falha nunca!).

Taquiprati (TQPT) - Doutor Curupira, o senhor existe de verdade?

Curupira (C) – Lógico! Se eu não existisse, não poderia ser agredido. Essa pergunta é impertinente, você deve fazê-la ao Aldo Rebelo. Aliás, minha existência é reconhecida pelo projeto de lei federal nº 2.762 que cria o Dia do Saci – o único que Aldo apresentou em 2003, como líder do governo. Ora, se até o meu primo, que tem uma perna só, existe...

TQPT – Desculpe, Excelência, é que dizem que vós sois uma invenção do homem.

C – (arregalando os olhos negros) E daí? O Código Penal também é uma invenção do homem para organizar a sociedade! Só porque foi inventado não têm vida? Claro que tem! Aliás, existe justamente porque foi criado. As pessoas acreditam no Código Penal e pautam seu comportamento em função dele. Tudo aquilo que o ser humano cria, passa a existir. A alegria e a tristeza também não têm forma física, mas existem porque a gente pensa nelas. Os homens pensam em mim. Sou pensado, logo existo.

TQPT – O que é que Vossa Excelência faz, afinal, na vida?

C – Sou legislador e, ao mesmo tempo, guardião da mata. Crio leis de proteção ao meio ambiente. Defendo a vida e a floresta. Protejo as árvores, os animais, os rios da ação predatória e burra. O fundamento filosófico de nossa legislação é que a natureza existe para todos nós, devemos retirar dela exclusivamente aquilo que é necessário para nossa sobrevivência. Devemos repor o que tiramos. Se não for assim, a espécie humana desaparece. Por isso, criei um código que, como a Constituição dos EUA, não é escrito, são leis que fazem parte do direito consuetudinário. Castigo e puno os predadores que cometem crime ambiental.

TQPT – Punir como? O Meritíssimo tem poder de polícia? Pode exemplificar?

C – Perfeitamente! Minhas leis são codificadas em narrativas. O código escrito tem artigos e parágrafos. O código oral tem histórias e exemplos. Quem entendeu isso muito bem foi Couto de Magalhães, um advogado mineiro. Quando ele assumiu a presidência do Pará, em 1865, compilou a legislação oral, recolhendo centenas de histórias na língua nheengatu, contadas por índios e caboclos. Numa delas, um caçador índio mata uma veada recém-parida. Quando chega perto do corpo inerte, descobre que é o cadáver de sua própria mãe. Esse foi o castigo de um encantamento feito por Anhanga. Essa é a pena para quem não respeita o período de procriação e amamentação dos animais: mata a própria mãe. Os povos da floresta acreditam nisso como os povos urbanos crêem no Código Penal. E é porque acreditam que preservaram a diversidade da vida.

TQPT – Mas o deputado Aldo Rebelo não sabia disso tudo, quando nessa quarta-feira, 9 de junho, na Comissão Especial da Câmara, terminou a leitura do seu parecer para mudar o Código Florestal Brasileiro?

C – Não quero ofender, mas aqui pra nós, muito em off, o Aldo é meio obtuso, bronco, parece que comeu coquinho de tucumã. Seu parecer de 270 páginas demonstra profunda ignorância sobre a história e a as culturas amazônicas. Afirma que “índios e caboclos, depois de lutar contra o meio inóspito, ainda vivem como viviam seus antepassados há centenas ou milhares de anos, dominados pelas forças da natureza, perambulando nus ou seminus, abrigados em choças insalubres”... (pg.21) Quá-qua-ra-qua-quá! Nenhum pesquisador no mundo assina embaixo de tal bobagem.

TQPT – Doutor Curupira, o meritíssimo já encontrou com o Aldo lá na floresta? Porque se ele fala tanto, é porque deve ter andado por lá...

C - O Aldo é um urbanóide, nunca colocou o pé na floresta. Por isso, acha que a mata é hostil. É hostil lá pra ele e pras negas dele, não para os povos que fizeram da floresta sua morada. Aldo fala em ‘choças insalubres’, mas o arquiteto Severiano Porto elogia a construção de malocas, confessa que aprendeu arquitetura com os índios. Aldo desconsidera mudanças e revoluções ocorridas nas sociedades amazônicas, registradas pelos arqueólogos. Ignora a arte, a música, a literatura, os conhecimentos na área de botânica, zoologia, astronomia, medicina, produzidos pelos índios. Nem suspeita que os índios criaram um código florestal oral. Ele afirma que “a conquista da Amazônia se deu com a expedição de Pedro Teixeira (1637-1639)”, como se a história começasse com os portugueses. Ignora que a Amazônia foi ‘conquistada’ pelos índios, que 5.000 a.C já desenvolviam agricultura sofisticada, com a domesticação da mandioca e de outras plantas. Aldo vê o saci e o curupira como 'folclore', não como expressão de culturas vivas e refinadas.

TQPT – Embora desconheça a floresta, Aldo diz que leu dezenas de livros sobre o tema...

C – Conversa fiada! Não leu, meu filho! O Aldo não lê nem o programa do PCdoB! Certifique-se você mesmo lendo o relatório que ele aprontou. Aprontou mesmo em todos os sentidos. A proposta do Aldo ignora os estudos feitos pelas universidades e centros de pesquisa. E ainda por cima se assessora mal. Em vez de chamar quem manja do assunto, foi procurar uma advogada, a Samanta Piñeda, que é consultora jurídica da bancada ruralista. Pagou R$ 10 mil com dinheiro nosso pra ela escrever aquela lengalenga enfadonha.

TQPT – Não entendo. O que é que o deputado ganha com isso?

C – Ganha a simpatia e o apoio dos ruralistas, do agronegócio. De acordo com a página na internet da ONG Transparência, a campanha de Aldo para as eleições de 2006 recebeu R$ 300 mil da Caemi-Mineração e Metalúrgica, R$ 50 mil da Bolsa de Mercadorias e Futuros, R$ 50 mil da Votorantim Celulose e Papel e por ai vai.

TQPT – Em que consiste, afinal, o projeto do deputado?

C – O projeto desmonta toda a legislação que protege a floresta: suspende multas de crimes ambientais, anistia desmatadores, reduz as áreas de preservação permanente (APPs) permitindo a realização de atividades econômicas dentro delas, dispensa a reserva legal em propriedades menores, incentiva a exploração de várzeas e topos de morro, dá autonomia para cada Estado legislar sobre meio ambiente, permite que os municípios passem a autorizar o desmatamento. É claramente um pedido de penico aos ruralistas, não está preocupado com os interesses nacionais, mas com interesses particulares de quem quer o lucro imediato.

TQPT – Se for aprovado, o projeto do Aldo prejudica todo mundo, até mesmo os descendentes dos ruralistas.

C – É o que estou dizendo há alguns milênios. Lembra o que aconteceu em Santa Catarina? Lá, o Governo reduziu as margens de mata ciliar ao longo dos rios e todo mundo viu a tragédia ocasionada pelas últimas chuvas. Se o projeto for aprovado, vai provocar impactos ambientais irreversíveis e a emissão de 25 bilhões a 31 bilhões de toneladas de gás carbônico só na Amazônia, segundo os especialistas. É preciso protestar. No Rio de Janeiro, nessa semana, já houve uma primeira manifestação de rua, com a participação de duzentos ativistas e lideranças de organizações ambientalistas. Nos outros países existem também curupiras. Eles vão boicotar o produto brasileiro em decorrência do desmatamento que o Código vai permitir.

TQPT – Excelência, me diga, o Aldo não é deputado do PCdoB, um partido que sempre defendeu, em tese, os fracos, a floresta...

C - (dando um assovio agudo e assustador) - Meu filho, o relatório do Aldo é uma afronta à sociedade e ao patrimônio ambiental do Brasil. Com isso, Aldo fere a respeitabilidade da bancada de um partido histórico nas lutas populares. Vai tirar votos de mulheres maravilhosas do PCdoB: Vanessa Graziottin (AM), Perpétua (AC), Jandira Feghalli (RJ), Alice Portugal (BA), Jô Moraes (MG), Manuela (RS). Aldo está se comportando como um agente infiltrado da bancada ruralista no PCdoB. Ele já passou para o outro lado, falta apenas formalizar sua filiação ao DEM (vixe, vixe!), onde é o lugar das idéias interesseiras que ele defende. Aldo Rebelo é o anti-curupira, o carrasco da floresta.

P.S. - O Curupira indica três cronicas já publicadas sobre o Aldo Rebelo. Uma sobre seu comportamento em Raposa Serra do Sol e duas sobre o projeto de Aldo que proibe o uso de palavras estrangeiras:

1.       Aldo, o Bandeirante Vermelho
http://www.taquiprati.com.br/cronica.php?ident=23

2.       A guerra das palavras
http://www.taquiprati.com.br/cronica.php?ident=106

3.       Uma piada de português
http://www.taquiprati.com.br/cronica.php?ident=107


O professor José Ribamar Bessa Freire coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ), pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO) e edita o site-blog Taqui Pra Ti .

domingo, 20 de junho de 2010

Entrevista com o cacique kaiapó Megaron Txucarramãe

Um dos principais líderes indígenas do País, o cacique kaiapó Megaron Txucarramãe é o símbolo da luta de centenas de nações de índios brasileiros por saúde, terras e direitos em um mundo cada vez mais globalizado. Sucessor do cacique Raoni, seu tio, nos últimos anos Megaron percorreu o mundo e conheceu presidentes, reis e imperadores, tudo sem perder o contato com as suas raízes culturais, a ponto de ter ajudado, com seu povo, na busca dos restos mortais das vítimas do acidente do avião da Gol. Megaron é o convidado desta edição do Personalidade. Participam da entrevista o jornalista Ronaldo Brasiliense, especialista em Amazônia, e o antropólogo Paul Little, doutor em conflitos agrários na Amazônia e coordenador do curso de pós-graduação em Antropologia Social da Universidade de Brasília. A apresentação do programa é de Antonio Vital, jornalista da TV Câmara. 

NÃO À USINA DE BELO MONTE !

Usina de Belo Monte – uma discussão que já dura mais de 20 anos.
Lembram da índia Tuíra?


a kaiapó que ameaçou com um facão o então presidente da Eletronorte (atual Eletrobrás) José Antonio Muniz? Aconteceu em 1989, no 1o Encontro dos Povos Indígenas, em Altamira (PA) quando o mesmo apresentava o projeto da Usina de Belo Monte, que na época chama-se usina de Kararaô.
A cena foi registrada pela imprensa mundial e ficou na história. Naquela época os ambientalistas já lutavam contra o projeto, devido aos seus impactos ambientais pouco estudados.
Em 2008, outro protesto, agora em Brasília, outro dia, outro funcionário do governo, mesma índia e ainda mesmo problema – uma obra  gigantesca que ameaça o equilíbrio ecológico e sócio ambiental da região do Rio Xingu, na Amazônia.

Concebida no governo de Ernesto Geisel em 1975 como parte dos projetos de exploração do potencial da Amazônia. Nos anos 80 foram propostas a construção de mais 6 usinas na região. Em 1994 o projeto de Belo Monte foi remodelado, devido à pressão dos ambientalistas. Em 2008, o Conselho Nacional de Política Energética decidiu que somente o projeto de Belo Monte seria levado ao término.
Em 2009 foi realizado novo Estudo de Impacto Ambiental e em fevereiro de 2010 o Ministério do Meio Ambiente deu a licença prévia para a construção – antes dos resultados do estudo! Em abril de 2010 foi feito o leilão de licitação com a vitória do Consórcio Norte Energia liderado pela construtora Queiroz Galvão e pela Chesf (Centrais Elétricas do São Francisco).

Se construída, será a terceira maior do mundo em capacidade, a segunda é Itaipu, também no Brasil e a primeira maior fica na China.
Com capacidade prevista de 11 mil MW nos momentos de máxima produção, mas a média calculada é de 4,5 mil MW, porque o Rio Xingu tem suas épocas de cheia e vazantes, dependendo da época do ano.
O custo calculado da obra de R$19 bi (algumas construtoras já estimam em R$30bi) será financiado pelo PAC - Plano de Aceleração do Crescimento – nos lembra a época do desenvolvimentismo na ditadura militar, que custou um endividamento do Estado e pago com 10 anos de inflação – e Lula era o maior crítico deste desenvolvimentismo na época!!
Iam participar do leilão um grupo liderado pela Andrade Gutierrez e outro pela Camargo Corrêa. A Camargo saiu do páreo e o governo lançou medidas para estimular o leilão, como um desconto de 75% do IR nos primeiros dez anos de operação e um financiamento de 80% pelo BNDES – leia-se PAC ou Tesouro Nacional - com prazo de 30 anos para pagar. Um subsídio bem a La Geisel – os empresários comerciais e industriais serão os maiores consumidores desta energia e povo quem pagará.

Impactos:
Francisco Hernandez, pesquisador do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP afirma que a usina provocará uma interrupção do Rio Xingu em 100 Km, o que atrapalhará a vazão de suas águas, prejudicando a população ribeirinha e os índios da região, e não será eficiente em termos de produção de energia (variação ao longo do ano entre 28.000 m3/s e 800 m3/s) o que reduz a 39% da energia do seu potencial total.
Serão inundadas aproximadamente 520 km2 de terras pertencentes a três municípios, Altamira, Vitória do Xingu e Brasil Novo. Nesta região estão 30 comunidades indígenas, 8 unidades de conservação ambiental, 4 reservas extrativistas, e milhares de pessoas serão desalojadas.
Segundo o diretor de licenciamento do IBAMA Pedro Bignelli nega que comunidades indígenas serão atingidas e que há projetos de preservação da fauna e flora – quais??
O Ibama impôs uma série de 40 condicionantes socioeconômicas e ambientais ao projeto. ???
O Ministério Público Federal ajuizou inúmeras ações contra esta construção – devido às irregularidades, mas o governo mandou suspender todas as ações – isso não te parece uma ditadura travestida de democracia???

Outros sites para consultas:

Leia aqui sobre as reuniões públicas efetuadas com a população local


Construção da Usina denunciada à ONU

Documento para baixar – Pareceres de cientistas sobre o EIA

Tuíra em Brasília em 2009

I Congresso Indigenista Internacional - 19 de Abril de 1940

Funai - Em 1940 realizou-se, na cidade de Patzcuaro, no México, o I Congresso Indigenista Internacional, com objetivo de debater assuntos relacionados às sociedades indígenas de cada país. Foram convidados representantes de todos os países do continente americano.

Os índios, principal motivo do evento, receberam o convite de honra, entretanto, por terem sido, ao longo de sua história, perseguidos e traídos pela sociedade envolvente, optaram por manterem-se afastados. Vários e insistentes convites foram feitos na tentativa de fazê-los participar do congresso. Ao fim de alguns dias, na medida em que se inteiravam dos reais propósitos da reunião, de sua importância para a luta por garantias de seus direitos, resolveram participar de forma efetiva nas reuniões de Patzcuaro. 

Esse momento, por sua importância na história do indigenismo das Américas, motivou os Congressistas a deliberarem no sentido de instituir o dia 19 de Abril como o “Dia do Índio”.

O I Congresso Indigenista Interamericano foi um evento importante, não só por ter instituído o “Dia do Índio”, mas principalmente por ter deliberado a criação do Instituto Indigenista Internacional, com sede no México, cuja finalidade é zelar pela garantia dos direitos indígenas nas Américas. Ao Instituto Indigenista Interamericano encontram-se ligado os Institutos Indigenista Nacionais. 

O governo brasileiro, por questão de política interna, não aderiu de imediato às deliberações desse Congresso, somente em 1943, graças aos apelos e intervenções formulados pelo Marechal Rondon é que o então Presidente da República, Getúlio Vargas, determinou a adesão do Brasil ao Instituto Indigenista Interamericano, como também instituiu o dia 19 de abril como o “Dia do Índio”, por meio do Decreto - Lei N.° 5. 540.

Se por um lado é importante ter uma data para que a sociedade nacional comemore e reflita sobre as sociedades indígenas, por outro lado é lamentável que as atenções estejam voltadas para esses povos por apenas um dia ou uma semana. O ideal é a conscientização nacional de que o Brasil é um país pluriético e que é preciso construir um cotidiano de convivência pacífica, de respeito e aprendizado mútuo.

Fonte: http://www.brasiloeste.com.br/noticia/957/